Eca e Ei – Soluções para a família?
No confucionismo, filosofia-religião que fundamenta a cultura chinesa, a cida-dania não se exerce sob o escudo de leis e mais leis e é até vergonhoso ao cidadão recorrer ao judiciário para a resolução de seus conflitos. Ao fazê-lo ele é considerado inapto ao exercício da cidadania pois esta pressupõe a capacidade de resolver por seus próprios meios de negociação suas diferenças com seus concidadãos, nas mais diversas situações. Isso tem sido possível porque as soluções são encontradas nos seus códigos de valores morais e culturais. Na nossa sociedade, ao contrário, criou-se a curiosa cultura “legislatória”. Para cada situação, uma nova lei. Parece ser assim mais fácil do que se dar ao trabalho de buscar o exercício de valores e princípios de um código ético abstrato e assumido por poucos em nossos tempos de vale-tudo.Depois de dolorosamente constatar-se a falta de valores morais que sustentem as relações familiares, chegamos à bizarra necessidade de termos um ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente e um EI – Estatuto do Idoso, ambos, curiosamente com siglas que representam um chamamento à nossa atenção ( Eca! Abandonam-se fi-lhos!?) ( Ei! Esse idoso é seu pai!!).Nesta reflexão não questiono a qualidade do que ali foi estabelecido, mas ques-tiono veementemente nossa renúncia contumaz à assunção de nossa responsabilidade como seres sociais. Precisar que nos seja imposta por lei a obrigação de cuidarmos dos nossos ascendentes e descendentes é até contrariar nossa destinação à eternida-de. De que outra maneira a humanidade se eterniza senão por seu vínculo com ascen-dentes e descendentes? E nesse ciclo não somos todos nós ascendentes de alguém, descendentes de outrem? Por que descaminhos chegamos a quebrar esse vínculo es-sencial até o ponto de nos desconhecermos e clamarmos por uma lei que nos imponha o que seria da nossa vocação natural fazermos? Cuidar, por força dos nossos valores humanos dos nossos ascendentes e des-cendentes, é consagrar a vida. Cuidar por força de lei é negá-la. Bom será o tempo em que serão revogadas essas leis, que, em uso parece somente terem criado mais situa-ções em que se deve ‘enjaular’ pessoas por infringi-las e que nada mudaram em rela-ção ao comportamento social que as gerou. Bom será o tempo em que as famílias se constituirão e se manterão por laços de parentalidade afetiva fundados nos únicos va-lores que podem manter, e num padrão saudável, esse grupo social que é matriz da nossa sociedade: a solidariedade; o respeito; a responsabilidade; e o poder de ser família. E sobretudo atendidos na necessidade maior do ser humano – o Amor.
Márcia Gama – Mediadora de ConflitosPresidente do Espaço Família Serviços Jurídicos e Terapêuticos
Márcia Gama – Mediadora de ConflitosPresidente do Espaço Família Serviços Jurídicos e Terapêuticos
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